sexta-feira, 17 de abril de 2009

Conto da tatuagem

E agora o conto da minha amiga! Quando tiverem novos temas no Duelo nós escreveremos e eu publicarei aqui também!

Dêem suas opiniões, críticas, sugestões, elogios... hehehee

TEMA: Tatuagem

TÍTULO:  (ainda sem, eu atualizo quando tiver)

Autora: Uma japa aí... hehe

- Está bem aqui, ó, doutor!

- Humm... Estou vendo!

O médico já tinha visto muita gente estranha em sua vida, mas nunca alguém se queixar de algo tão absurdo.

- Está vendo, hoje está com cara de manso.

Pediu que o paciente se vestisse e que sentasse na cadeira de frente para a sua mesa.

Pensou em como poderia dizer que o paciente precisa de acompanhamento psicológico porque o que alegava era não apenas impossível como inimaginável.

- E então, doutor?

- Olha, Gabriel, o que você está me dizendo não é possível. Eu o examinei apenas por rotina para garantir que não é nenhum problema de pele, e realmente não é. O que você tem é apenas fruto da sua imaginação. Não é de minha competência analisar o seu caso. Mas posso recomendar um colega meu de extrema eficiência, seu nome é ...

- Colega? O que ele é?

- É um psicólogo respeitadíssimo!

- Você acha que estou louco?!

- Veja, Gabriel, não é comum...

- Doutor, eu estou te dizendo a verdade! Não sou louco não!

Tudo começou uns 3 meses atrás. Eu decidi que ia fazer uma tatugem! Sempre sonhei em ter uma tatugem mas ainda não sabia o que colocar. Fui em vários lugares para escolher o desenho certo e alguns deles eram até legais, mas eu sabia que quando encontrasse o certo pra mim não haveria dúvidas. Foi quando eu vi, em uma loja bem pequena de tatuagens em cima de um salão de beleza, a figura mais linda que já vi na vida! Era esse tigre branco, com olhos vermelhos que simplesmente me enfeitiçaram. Era uma figura até amável, mas ainda tinha a força e poder que um tigre porta.Estava decidido! Era essa tatuagem que eu queria para mim!

Pedi que fizesse uma figura grande, que ocupava quase metade da batata da minha perna esquerda!

Demorou umas 3 semanas para conseguir terminar todo o desenho com cores. Mas ficou ótimo!

Tomei todos os cuidados com a nova marca no meu corpo mas minha grande supresa não demorou muito a aparecer.

A imagem, que até então se mostrava dócil apareceu com os dentes a mostra formando uma cara brava.

Eu achei que era coisa da minha imaginação, afinal uma tatuagem não muda de forma.

Mas com o tempo a coisa foi piorando. Em alguns dias por exemplo eu acordava e o tigre ainda permanecia de olhos fechados. Em outros momentos ficava de boca aberta prestes a me morder. Um dia eu até o vi com a língua de fora, acho que queria se lamber.

Ainda assim eu não queria acreditar no que estava acontecendo. Pensava que era o meu estado de espírito no dia que fazia com que eu fantasiasse essas coisas.

Eu estava enganado, alguns dias depois a tatuagem começou a se mover! Foi tudo bem lentamente. Primeiro fez um giro de 180 graus na minha perna. Depois foi subindo para a coxa. Nesta época fiquei com medo de olhar para a figura e quando ia tomar banho tentava afogar o tigre embaixo do chuveiro. Nunca funcionou! Ele lá permanecia.

Foi quando eu vi que o tigre tinha simplesmente pulado da minha perna esquerda para a direita que resolvi procurar o tatuador que imprimiu este ser assustador em mim. Mas estranhamente o local não existia mais, havia fechado. Entrei no salão de beleza para perguntar o que havia acontecido e fui informado que nunca existira um tatuador naquele local. Tentei mostrar a figura do tigre mas este havia se escondido para fazer com que eu parecesse louco na frente dos outros.

Foi quando ele se instalou no meu rosto que fiquei mais apavorado. Fui em vários outros médicos mas ninguém acreditou em mim, disseram que eu deveria procurar alguém que tratasse de coisas mentais.

Quando descobriu que eu viria aqui hoje fez cara de bonzinho e se posicionou na minha barriga para não me dar credibilidade.

O médico o encarava atônito. Não sabia o que dizer para o rapaz. Pensou em chamar discretamente algum amigo seu da psiquiatria.

Foi quando o rapaz levantou novamente a camisa e a figura não estava mais lá.

- Viu, não falei! Ele se moveu de novo!

Retirou a camisa e o tigre estava em suas costas rangendo os dentes.

O médico jogou o corpo para trás e tentou recobrar os pensamentos. Deve ser um truque deste cara, foi o que pensou.

Mas a figura se movia no corpo do rapaz e tomava formas tão reais que deixou o médico apavorado.

O rosto do tigre aumentou de tamanho e colocou-se para fora das costas do seu então hospedeiro. Seus contornos ganharam dimensões tridimensionais. O corpo da criatura surgiu e saltou sobre a mesa do médico. Soltou um rugido que atraiu todos na sala de espera.

Correu em direção a janela aberta, pulou no ar e simplesmente desapareceu!

Conto "duelo"

Eu leio sempre o http://www.duelodeescritores.blogspot.com/ . Estava essa semana brincando de escrever com uma amiga minha (sim, brincando porque não chego aos pés de ninguém desse blog, nem da minha amiga, nem de ninguém, é só diversão pra mim... hehe) e decidimos usar os temas que forem surgindo no blog e escrever também! Ela não sei se vai publicar, não tem blog próprio... Se ela deixar publico aqui também... Espero que ninguém ache ruim de nos aproveitarmos das idéias, dos temas... hehe

Bom, vamos ao primeiro! Ficou meio longo... Mas, Boa leitura!!

       

Tema: TATUAGEM

Título: Marcas eternas

        Ralf estava sentado em sua cadeira de balanço olhando o campo florido pela janela. Viu seus colegas da casa de repouso com seus netinhos correndo pelo gramado, aproveitando os últimos dias da primavera.

        Suspirou e tomou mais um gole de seu chá. Sentia saudades de sua familia que ainda estava presa na Alemanha oriental. Sentiu-se sozinho.

        A enfermeira entrou lhe trazendo seus medicamentos.

        - Enfermeira, você poderia pedir que alguém me levasse lá fora? Gostaria de sentir as últimas brisas quentes do verão.

        - Tudo bem, aguarde um pouco que nossos enfermeiros estão em ronda também.

        - Tudo bem!

        Sentiu uma ponta de alegria interna, fazia duas semanas que  não sentia as flores, que não passeava pelo jardim. Isso lhe deixava muito triste, porém sabia que não podia exigir que o levassem todos os dias para um passeio. Estava com 85Kg e a casa ainda não havia conseguido uma cadeira de rodas para ele.

        Logo chegaram ao seu quarto dois enfermeiros fortes.

        - Boa tarde senhor Ralf! Pronto para dar uma voltinha?

        - Muito! Vocês já colocaram a minha cadeira na varanda?

        - Sim!

        - Sem querer abusar da boa vontade de vocês, desta vez vocês poderiam me colocar embaixo daquela árvore ali, perto das flores e das crianças?

        - Podemos sim, aguarde só um pouco que já retorno.

        O mais velho dos dois correu arrumar a cadeira antes do transporte. O outro ficou lhe fazendo companhia. Ralf não o conhecia e percebeu seus olhos fixos na ausência de suas pernas.

        - Pode perguntar, você quer saber onde estão minhas pernas, certo?

        - Não, não, desculpe, erm...

        - Você é novo aqui, certo? Não te contaram as histórias? Cada um cria uma história a meu respeito, algumas extremamente fantasiosas como a que eu era um devorador de criançinhas nazista que foi vingado por um pai bravo.

        Ralf gargalhou e observou a expressão de susto do enfermeiro.

        - Não se preocupe, não é nada disso. Inventam essas coisas pois eu nasci na alemanha. Mas eu perdi as pernas ao tentar salvar meus filhos do campo de concentração. Consegui, perdi somente as pernas mas sei que eles estão vivos e bem e isso vale mais do que mil pernas.

        Nisso o outro enfermeiro retornou

        - Tudo pronto, vamos?

        Os dois enfermeiros fizeram uma cadeira com os braços e carregaram o senhor até o lado de fora.

        - Sr Ralf, já sabe, quando quiser voltar para dentro basta levantar a mão q viremos lhe carregar!

        - Ok, muito obrigado rapazes!

        Ralf fechou os olhos, deitou a cabeça no encosto e sentiu a brisa lambendo-lhe a face, escutou os passarinhos ao longe, a água do riacho próximo correndo, as crianças rindo e percebeu que assim a saudade de seus filhos diminuia um pouco, sentia-se mais perto deles.

        Relembrou seu tempo na longínqua Alemanha, sua infância correndo pelos campo à caminho da escola, roubando maças do vizinho para o lanche... Deixou seu pensamento fluir e ir criando em sua cabeça toda a retrospectiva da sua vida até chegar nas primeiras notícias da guerra. Tudo o que era colorido e alegre ficou preto, vermelho e perturbador. Abriu os olhos tomando ar, como se tivesse emergido de um poço. Olhou para o seu próprio pulso e viu algo que o marcava mais do que a ausência de suas pernas: a tatuagem. A marca por ter uma religião, por acreditar em Deus e na Paz. Haviam marcado seu código no primeiro dia no campo de concentração. Sabia por ter acompanhado outros tantos passando e recebendo as marcas. Mas não lembra-se de nada das duas primeira semanas de estada no campo. Lembra da dor da perda e do aprisionamento que eram maiores do que a dor da cicatrização das pernas. Sabia que com as tecnologias atuais poderia facilmente removê-la, mas não queria, sabia que simbolizava a sua vida, o seu “karma” o seu pesar e o motivo de ainda estar vivo. Pensava que apagando seria como jogar um lençol em cima de um prédio para tentar cobri-lo.

        Se perde nos pensamentos olhando aqueles números, sonhando em como poderia fazer para encontrar seus filhos perdidos.

        Enquanto isso, os enfermeiros estava parados na varanda observando as pessoas na varanda e no jardim, esperando que precisassem de seu auxilio. Quando o mais novo pergunta:

        - Qual a história desse seu Ralf?

        O outro olha bem para ele e pergunta:

        - Você tem certeza que quer se envolver na vida pessoal dos pacientes? Pode ser pesado.

        - Sim, estou aqui, morando aqui junto com eles, sinto que devo conhecê-los para assim ajudá-los melhor!

        - Muito bom garoto, você tem um bom futuro pela frente! Bem, vejamos, por onde começar...

        Contou toda a história, de onde veio, como perdeu as pernas salvando os filhos, da vida no campo de concentração, até seu resgate por soldados brasileiros que o trouxeram para cá.

        O mais novo decidiu então ajudar. Foram meses de pesquisa.

       

        No início da primavera seguinte o Sr Ralf novamente chamou os enfermeiros pois queria aproveitar os dias quentes se aproximando. Porém desta vez apareceu primeiramente Ágata, a responsável por seus cuidados pessoais. Sentiu um sorriso maior na simpática ajudante.

        - O que lhe faz tão feliz hoje?

        - Hoje é um dia especial para todos!

        - Por que?

        - O senhor verá, venha, vamos tomar um banho, fazer sua barba e colocar uma roupa bonita!

        - Mas isso só acontece à noite, o que está acontecendo?

        - Apenas siga minhas instruções, já lhe falei que é um dia especial.

        - Tudo bem, tudo bem, gosto de surpresas!

        E pensou que deveria ser aniversário de algum de seus colegas ou até de um dos médicos. Era normal festas comemorativas, mas nunca levadas tão à sério.

        Após o banho e toda a sua higiene os dois enfermeiros o levaram para a árvore.

        Ele ficou lá, pensando que havia se passado mais um ano sem nenhuma visita, sem nenhum carinho conhecido, sem sequer uma carta! Mas como saberiam da sua localização? Havia sido obrigado a mudar de nome para poder se alojar com segurança. Enquanto deixava seus pensamentos em devaneio escutou passos. Se virou e viu dois casais e 5 crianças se aproximando. Sua curiosidade se aguçou e ao chegarem mais perto reconheceu, mesmo com os 37 anos que haviam passado, os olhos de seus filhos. Imediatamente começou a chorar e eles correram para abraçá-lo.

        Todos os enfermeiros e habitantes da casa estavam na varando observando a emocionante visita.

        Interromperam o abraço e se olharam, um sorriso incontido naqueles dois homens e naquela mulher. Era sua garotinha, como havia crescido!! E seu filho então, havia se tornado um homem muito bonito!

        Neste momento os filhos viram a marca no pulso do pai. Viraram então seus pulsos e formaram um triângulo marcado.

        Lágrimas de tristeza e ódio correram. Havia sido em vão todo o seu esforço, estavam todos marcados.

        A filha logo percebeu e falou:

        - Não tenha ódio pai, estamos vivos e unidos. A mesma tatuagem que nos separou é o que nos une agora através da vontade e esforço de um de seus enfermeiros.

        Ralf sentiu um alívio e um sentimento de perdão percorrer seu corpo. Abraçaram-se novamente. O resto da familia se aproximou, foram todos devidamente apresentados e sentaram-se à volta do Sr. Ralf e começaram a conversar, contar tudo o que havia acontecido nos últimos 37 anos, evitando o assunto guerra. Apenas amores e felicidade pois depois de tudo que haviam passado, sabiam que apenas isso era importante na vida.

        Ralf virou-se para a varanda para agradecer seu anjo salvador e estavam todos com lágrimas nos olhos.

        - É por isso que eu amo a minha profissão. Falou o mais novo para seu colega enfermeiro.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Micro-diálogo

- Ô seu sapato, por que você me aperta tanto?

- Para você não esquecer de continuar seguindo.