Hoje fui no enterro do irmão da minha vó. E ela falou assim: "mais um que se vai". E eu fiquei pensando em como é a vida. Ao olhar a viúva chorando me deu um aperto. Eu não sinto tristeza pela morte, sou espírita, sei como as coisas acontecem e inclusive acredito que aqui estando estamos mortos. Que a vida é no outro plano e o que mais me "acalma" é saber que na verdade somos todos imortais. Portanto, não fico triste em enterros "per se" e sim pelas pessoas que ficam, pelo vazio, pela saudade. Isso também me lembra que eu indo embora é quase como se eu estivesse morrendo. As coisas que preciso fechar e resolver aqui são como isso e o fato de estar longe e da saudades também. Mas também não é disso que eu quero falar.
Fiquei pensando ao olhar a viúva do vazio que ela sentirá quando chegar em casa. Depois de mais de 50 anos juntos, a vida compartilhada, todas as mudanças de personalidades, os problemas, as alegrias, as pequenas manias, os filhos, os netos tudo construido junto. E agora ela chegará em casa e estará sozinha. Será que me afasto tanto de todos por causa do medo do fim, de ficar sozinha? Melhor se acostumar a estar sozinha sempre. Sim, eu sei que não. Mas inconscientemente, será melhor nunca ter tido ou sentir a imensa falta depois?
É paradoxal, eu detesto estar sozinha mas ao mesmo tempo faço de tudo para estar o mais sozinha possível.
Depois disso fiquei pensando em coisas que tenho ouvido de pessoas mais velhas, inclusive de pessoas que trabalharam muito a vida inteira, chegando tarde em casa e tudo que a vida de um alto executivo envolve. Ouço que o que vale o que importa mesmo na vida são as relações criadas.
Por mais batido que tudo isso seja, é interessante perceber que coisas batidas são verdades. E não estou aqui falando do materialismo pois isso é obvio, mas sim das decisões e preocupações da vida. Que essas coisas não importam e sim aprender a se relacionar o melhor possível com todas as pessoas. Não necessariamente ter amigos, mas não ter inimigos. Criar laços, aprender com as pessoas e todas as suas diferenças.
Ando com medo de morrer e não ter feito o que devia e não ter aproveitado o que e como devia. Não os momentos rápidos, a tal da "felicidade vertical" e sim a "felicidade horizontal" que não é feita das coisas pequenas e sim da vida "vivida", aproveitada, de acordo com o seu jeito, a sua moral, os seus valores.
Me preocupo tanto em fazer as coisas certas mas isso não importa! O que importa é aprender, viver, errar. Minha prima me falou na sexta: "você tem que lembrar que as pessoas esquecem e viver assim", pois é, sem medo dos micos e das bolas foras, sem medo da morte, sem medo de errar!
Por que o que sobra da vida são os relacionamentos e seus aprendizados. Não quero morrer sozinha.